Monólogo exterior (devaneio)
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não se pode dizer que me tenha dado grande atenção, aliás... nenhuma, atenção nenhuma... o normal, o usual, o trivial na minha vida com mulheres, aliás nenhuma: passam, olham, algumas olham, quero dizer, desatentas, como se eu fosse um prédio, em ruínas ou desabitado, e continuam... mas esta... acarinhei... bom, acarinhei a ideia, claro, não a rapariga propriamente... se bem que... não me atrevo, claro, mas, se bem que... espreito para a sala agora... lá está ela, muito compenetrada, sentada e sozinha, a ler... o quê? ah poesia, parece poesia, aposto que se eu passar em frente nem levanta os olhos do livro, nem sequer para dizer qualquer coisa como Groucho, por acaso não tem um lápis à mão? ... e por acaso nem tenho, mas para que havia ela de querer um lápis... não, melhor não passar, manter distância discreta, nada difícil, ela vem cá pouco... oh, quem é aquele que ali vai? oh não! logo ele... que lhe quer ele, c' um raio! que lhe quer ele?
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