28 agosto 2005

«Dicionário de Soundbytes», por Groucho

Fêmea: 1. A oposição fêmea/macho é das mais necessitadas de um urgente trabalho de desconstrução, já que nela se investe toda a economia política da desigualdade sexual. 2. Não é simétrica de «macho», já que este fala pelas mulheres quando recorre à maiúscula – o Homem – e o inverso não ocorre, pois Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e não a mulher. 3. As feministas defendem que uma coisa é a fêmea e outra a mulher, que esta não «nasce» mas «se faz», e que não há o «feminino», coisa que exige bastante bibliografia para se chegar lá. 4. Júlio Cortazar defende, no seu famoso romance Rayuela, que há um «leitor-fêmea», coisa aferível pela leitora destituída do século XIX (por exemplo, a Luísa do Primo Basílio). 5. Trata-se obviamente de um caso de atroz falocentrismo, pois está por provar que todos os leitores de Inês Pedrosa ou Margarida Rebelo Pinto sejam iletrados. 6. Além disso, e como vimos antes, é discutível que todos os «leitores-fêmea» sejam mulheres. Há muito homem leitor que se enquadra bem na categoria, e muitos até escrevem em jornais e falam na rádio e na TV.

Feminismo: 1. Em Portugal, não há. 2. «Ainda bem, porque as mulheres perdem a sua elegância natural, a sua doçura e cativante fragilidade quando se põem a protestar e reivindicar por tudo e por nada». 3. Consiste em queimar soutiens em público e em dizer, a propósito do aborto, apontando para o útero, «Aqui mando eu!». 4. Uma das formas mais equivocadas e detestáveis do «politicamente correcto». 5. «Felizmente, já estamos no pós-feminismo, em que convivem mulheres em cargos de gestão dos mais altos no mundo empresarial, com a perda de complexos em relação a certas tarefas domésticas rejeitadas pelo feminismo histó(é)rico. Ou em relação à lingerie e aos saltos altos…»