«Dicionário de Soundbytes», por Groucho
Facilitismo: 1. Impera nas escolas, com excepção das privadas. 2. Há que combatê-lo, e denodadamente!, pois, como diz Maria Filomena Mónica (v.), «os meninos» têm de perceber que a escola é para estudar no duro e não para passar as aulas a enviar sms e fotos em telemóveis 3G com propostas eróticas indecentes. 3. Isso, convenhamos, é coisa que deve ficar reservada aos professores.
Fado: 1. Pode significar coisas tão diversas como os 11 anos do Benfica sem ganhar, o lacrimejar do Presidente Sampaio (v.), os 48 anos de Estado Novo e a longevidade de Salazar (v.), a guerra colonial e a perda das colónias, a inevitável moral das crónicas de Vasco Pulido Valente (v.), a média dos estudantes portugueses do Secundário a Matemática, a sucessão Guterres-Durão Barroso-Santana Lopes, a incapacidade para instituir em Portugal uma real justiça fiscal, a iliteracia (v.) contumaz da população portuguesa, os telemóveis que tocam durante o concerto, a peça de teatro ou a conferência, o número de mortos nas nossas estradas, os incêndios florestais, os jornalistas que dizem na TV, ou escrevem no jornal, que «a candidatura de Soares vem de encontro às expectativas do PS profundo», os jornalistas que na TV, em noite eleitoral, repetem que «faltam apurar x freguesias», ter de votar em Soares ou em Cavaco para presidente, ter de elogiar Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia só porque é português, o espectáculo do condutor que deita a beata (ou o maço) pela janela em vez de a colocar no cinzeiro, as derrapagens orçamentais nas obras públicas, os atentados terroristas da Al Qaeda, a reeleição de Bush, a cooptação de ditadores no mundo árabe, as fraudes eleitorais em África, os genocídios no Tibete, no Ruanda ou no Sudão, a corrupção em Angola ou no Brasil, os escândalos sexuais na política americana, a substituição periódica dos administradores da CGD, com indemnização cristã dos removidos, as reeleições, os défices e os discursos etilizados de Alberto João Jardim, o «Não pagamos!» dos estudantes universitários, a compra dos submarinos para a nossa frota, a Bombardier, a omnipresença mediática de Luís Delgado, a obsessão de Pacheco Pereira com o Partido Comunista e com Cavaco Silva, os tabus do mesmo Cavaco, os eternos tabus do eterno António Vitorino, os anúncios da OTA e do TGV, o programa do Prof. Marcelo, comprar o Expresso aos sábados, etc. 2. Pode trocar-se a ordem das vogais, que o sentido é mais ou menos o mesmo. 3. É também uma musiqueta lisboeta, tristonha e repetitiva, nascida em bordéis e exportada por Amália com sucesso para França & resto do mundo, hoje estudada com bolsas da Gulbenkian e da FCT, e para a qual certos poetas, com especial destaque para Vasco Graça Moura e Manuel Alegre, gostam de fornecer versos rimados, por serem democráticos. Eduardo Prado Coelho aprecia muito, sobretudo na versão pós-moderna (Mísia & Co.). 4. Dizer, com um gesto de enfado: «Essa mania de que o fado não vale nada é coisa de pseudo-intelectuais ultrapassados. Pois se até o Jorge Silva Melo, o Graça Moura, o La Féria, o João Braga, a Rita Ferro e tantos outros, não passam sem ele… Além de que hoje é World Music (v.). Vide a Marisa!».
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