30 agosto 2005

«Dicionário de Soundbytes», por Groucho

Freud, Sigmund: 1. Só pensava naquilo. 2. Punha as tipas todas no divã. 3. Achava que passamos a vida a pensar em coisas porcas a respeito da nossa mãe e com medo de que o pai descubra. 4. A irmã tinha muita inveja do pénis dele.

Freyre, Gilberto: 1. Teórico do luso-tropicalismo, um dos poucos brasileiros que, no século XX, gostaram de Portugal. 2. Na verdade, gostava tanto de Portugal que conseguia ver só virtudes na nossa colonização, sobretudo no processo de intercâmbio sexual e genético que conduziu à produção da mulata (o que, sejamos justos, se compreende). 3. Tinha uma ideia um bocadinho idílica do que se passava, em matéria de cama, na Casa Grande. 4. Salazar achava-o um libertino mas acabou por lhe fazer justiça, ainda que tardiamente, convidando-o para um Grand Tour gratuito pelas colónias, de que resultou o livro de viagens Aventura e Rotina, ainda hoje a melhor introdução às bondades do mundo que o português criou, em África e na Índia. 5. Defendia a «democracia racial» mas era mais reticente em relação à política, razão pela qual saudou a chegada dos generais à política brasileira nos anos 60.

Fronteiras: 1. Já não existem, nesta era cosmopolita. 2. É bom que se mantenham, para os africanos, os árabes e os turcos. 3. Há sempre uma última depois da última. 4. Sobre o assunto, consultar sempre Boaventura Sousa Santos.

Fufas: 1. Em Portugal não há. 2. Consta que antigamente havia, mas isso foi em tempos mais politicamente incorrectos. 3. Lésbicas também há muito poucas.

Fugas (de informação): 1. Não são da responsabilidade dos jornalistas, que se limitam a fazer o seu trabalho (Inês Serra Lopes desunha-se a trabalhar, nesse domínio). 2. Também não são da responsabilidade dos tribunais ou da Procuradoria Geral da República. 3. Em rigor, ninguém é responsável por elas. 4. São uma espécie de transcendental do espaço público em Portugal: existem (a priori), e é tudo. 5. Como é porém típico dos transcendentais, delas não se pode dizer que sejam fruto do acaso.

Função Pública: Um cancro.

Funcionários (Públicos): «E não se pode exterminá-los?»

Fundamentalismo: 1. Há o islâmico, o judaico, o cristão, e o de George W. Bush, que foi salvo do álcool por ele. 2. Só o primeiro é danoso para a tranquilidade dos espíritos e a segurança dos povos, como o caso de George W. Bush convincentemente demonstra.

Futebol: 1. O ópio das massas. 2. Para os eruditos, amigos de arquétipos e citações: «Panem et circenses». 3. Uma escola de virtudes cívicas, antes dos jogos (por intermédio dos treinadores), durante (por força das claques) e depois (por intermédio dos dirigentes). 4. «A culpa, sejamos justos, é dos árbitros, que ou são muito maus ou corruptos». 5. Segue as regras gerais da economia portuguesa, embora dê mais nas vistas: investir sem ter com quê, não pagar as contribuições à Segurança Social, salários em atraso, não pagar impostos, pagar juros dos juros da dívida, reivindicar o seu lugar estratégico na economia nacional, esperar pela próxima amnistia fiscal. 6. Deu um novo sentido à palavra «promiscuidade», no que toca às relações entre dirigentes e políticos (ou seja: entre Valentim Loureiro e Valentim Loureiro). 7. Para dizer a verdade, tudo isto se suspende assim que a bola começa a rolar sobre a relva, pois nessa altura o mundo torna-se mais redondo, aconchegado e feliz. 8. Nos últimos anos, com a chegada das mulheres às bancadas, entrou num processo de erotização excessiva: camisolas despidas após os golos, tatuagens sugestivas, brincos e piercings, proliferação de casais de jogadores e modelos de moda, as câmaras de TV a demorarem-se mais nos umbigos e tatuagens das espectadoras do que no relvado, etc. 9. «Bons tempos, em que elas ficavam no carro a fazer malha!». 10. «Agora até já há futebol feminino, imagine-se! Se bem que há jogadoras bem boas…»