26 agosto 2005

Cara a cara

— Olá, Groucho!
— Olá…
— Está tão sério… Nem parece o mesmo Groucho que me atendeu o telefone hoje de manhã. Passa-se alguma coisa?
— Hãããã…? Alguma coisa? Não, não…
— Está esquisito, homem!
— Não… O senhor estava… estava ali a… enfim, a…
— Estava o quê? Diga. O gato comeu-lhe a língua ou que é isso? Até parece que está a falar com reticências!
— O senhor estava ali… a conversar com a menina Clara, não era?
— Estava, porquê?
— Por nada, pareceu-me que estava a conversar… com a menina Clara, pronto…
— Ui, ui, que é lá isso, Groucho? Temos ciumeira, é?
— Hã? Não, não, que disparate… Então, eu, com ciúmes, ora essa, Sr. Rubim, por amor de Deus…! Mas…falavam de quê, se não é indiscrição?
— Quer saber do que é que falávamos?! Está a ficar um mordomo muito coscuvilheiro, não?
— Mera curiosidade, sabe como é…
— Sei como é, sei! Oiça, meta-se na sua vida e deixe lá a menina Clara em paz, está bem? E, já agora, sirva-lhe um aperitivo, que nós a seguir vamos jantar. Para mim, nada.
— Ah, vão jantar?...
— Vamos, porquê? Tem alguma coisa contra? Veja lá!
― Pronto, pronto. Não quero que o senhor se zangue. Ainda me atiça aí os cães de guarda e é um sarilho…
— (vai para levantar a voz, mas contém-se no último instante) Ó homem, ponha-se a mexer!...