Uma ideia presidenciável
― Que lhe pareceu esta disponibilidade do Manuel Alegre para se candidatar à Presidência da República? Entusiasmou-se com a ideia de ter um poeta à frente dos destinos do país, Groucho?
― Eu, a bem dizer, não tenho país, sabe? Mas não foi por isso que me faltou o entusiasmo.
― Ah o senhor não se…?
― Não, não me…
― Pensei que…
― Pois, pensou mal. Poetas no poder parece-me… enfim…
― Estou a ver, estou a ver…
― Talvez se… bem… não quer dizer que… mas talvez se…
― Se fosse outro género de poeta, é isso que quer…
― De maneira nenhuma, não é isso que eu… Estava a pensar que… se calhar, o senhor não vai gostar que eu diga isto, não sei…
― Ora essa, Groucho, eu sou um homem de espírito aberto e…
― Sim, mas o problema não está no espírito, está nisso…
― Nisso o quê?
― Nisso de ser um homem… É que, precisamente, a minha ideia era que…
― …
― …que o ideal era que houvesse nestas eleições uma mulher a candidatar-se.
― Uma mulher?! Que raio de…
― Essa sua surpresa confirma o meu pensamento. Se avançasse uma mulher com capacidade real para disputar o lugar de Presidente da República, algo de verdadeiramente novo aconteceria em Portugal. Não seria apenas um acontecimento político da maior importância mas, mais do que isso, um acontecimento histórico e até creio que não exagero se disser que haveria aí uma mudança social, enfim, relevante. Sobretudo se essa senhora (e o problema é que não estou a ver quem poderá ser…) ganhasse de facto as eleições.
― Tem de concordar que é um critério muito discutível. A verdade…
― (em surdina) O problema é que não é só aí que faltam mulheres.
― O que é que está para aí a dizer, Groucho?
― Nada, nada. Como dizem os retroseiros, estava só a falar com os meus botões.
― Eu, a bem dizer, não tenho país, sabe? Mas não foi por isso que me faltou o entusiasmo.
― Ah o senhor não se…?
― Não, não me…
― Pensei que…
― Pois, pensou mal. Poetas no poder parece-me… enfim…
― Estou a ver, estou a ver…
― Talvez se… bem… não quer dizer que… mas talvez se…
― Se fosse outro género de poeta, é isso que quer…
― De maneira nenhuma, não é isso que eu… Estava a pensar que… se calhar, o senhor não vai gostar que eu diga isto, não sei…
― Ora essa, Groucho, eu sou um homem de espírito aberto e…
― Sim, mas o problema não está no espírito, está nisso…
― Nisso o quê?
― Nisso de ser um homem… É que, precisamente, a minha ideia era que…
― …
― …que o ideal era que houvesse nestas eleições uma mulher a candidatar-se.
― Uma mulher?! Que raio de…
― Essa sua surpresa confirma o meu pensamento. Se avançasse uma mulher com capacidade real para disputar o lugar de Presidente da República, algo de verdadeiramente novo aconteceria em Portugal. Não seria apenas um acontecimento político da maior importância mas, mais do que isso, um acontecimento histórico e até creio que não exagero se disser que haveria aí uma mudança social, enfim, relevante. Sobretudo se essa senhora (e o problema é que não estou a ver quem poderá ser…) ganhasse de facto as eleições.
― Tem de concordar que é um critério muito discutível. A verdade…
― (em surdina) O problema é que não é só aí que faltam mulheres.
― O que é que está para aí a dizer, Groucho?
― Nada, nada. Como dizem os retroseiros, estava só a falar com os meus botões.
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