11 julho 2005

Reunião de condomínio (o mistério...)

MP — Desculpem a convocatória tão em cima da hora, mas esta reunião foi pedida pelo nosso Groucho, com carácter de urgência (a expressão é dele). Não sei o que ele quer… talvez despedir-nos…
G — Dispensemos os gracejos, Sr. Portela. O caso é sério e passo a expô-lo sem rodeios. Alguém devassou o meu quarto…
FMO — Devassou o quarto!? isso não é assunto do condomínio nem razão para eu interromper as minhas férias.
OMS — Nem eu as minhas. Francamente, em menos de uma semana tenho que estar de volta ao trabalho.
MP — Deixem o homem falar.
G — Obrigado, Sr. Portela. Bom, como ia dizendo, o caso é grave: alguém entrou no meu quarto e se apoderou dum caderno, aliás volumoso, contendo cerca de quinhentas folhas manuscritas.
PS — Caramba, um manuscrito! Não diga! roubaram-lhe o diário íntimo!
G — Não, Sr. Serra, não mantenho nenhum diário, muito menos íntimo. Não vou dizer o que continham essas páginas. Apenas que são minhas, quero dizer, fui eu quem as escreveu… ou quem as escrevi? ou que as escrevi? Raio de relativos… Adiante. O autor do furto sabe o que lá está. E sabe que eu sei que ele sabe.
GR — Mas quem foi o delinquente, Groucho? E que tem isso a ver connosco? Também quero ir de férias, já agora, vim cá de propósito por causa disto. Não que me custe ajudá-lo numa aflição, claro.
G — Claro, Sr. Rubim, claro. Mas não vou dizer quem foi. Quem foi sabe o que fez. Venho dizer apenas que dou à pessoa em causa vinte e quatro horas para repor o caderno no seu lugar. E será como se nada se tivesse passado. Se dentro de vinte e quatro horas o caderno não tiver sido devolvido, os senhores vão ver com quantos paus se faz uma canoa.

(Groucho retira-se.)

LQ — É impressão minha ou ele está a acusar um de nós de lhe ter roubado o tal caderno?
ABB — Furtado, ele disse furtado. A distinção é importante. Acho que este Groucho andou em Direito…
MP — Isso agora não interessa nada. Vamos lá a ver… nem quero pôr a hipótese de algum de nós ter roubado o caderno. Mas se alguém foi, é melhor devolver…

(Grande algazarra, barulho de cadeiras e copos. Falha a corrente eléctrica. Um ruído surdo, como se um corpo caísse pesadamente no chão.)