17 julho 2005

O Futuro do Romance (II)

- Os meus romances não se vendem, os editores não me querem. Logo, o futuro do romance, no que me toca, não tem grande futuro…
- Já ninguém lê A Rosa do Adro, e contudo, o que aquilo se vendeu!
- E a Ana Paula, do Joaquim Paço d’Arcos, aliás bem bom como romance.
- Eu peço desculpa?! O Camilo, sim. E contudo ninguém o compra, as edições amontoam-se em armazém…
- Mas nem tudo é mau. Há o romance light (cf. António Guerreiro) do Graça Moura, que vende bem.
- E o romance pop daquelas raparigas como a Rebelo Pinto, todas aliás licenciadas em Línguas e Literaturas Modernas. Vendem como o milho.
- E o romance pós-colonial, daquele Ondjaki e outros africanos editados na colecção azul da Caminho, que têm um público razoável e fiel.
- E o romance de jornalistas: o Marmelo, o Ventura, o Saraiva… Com os jornais deles a ajudar, até vai vendendo.
- E o romance de políticos: o do Deus Pinheiro, por exemplo, o tão prometido do Portas.
- E o de comentadores políticos: o do Sousa Tavares (com o que ganhou, já só escreve crónicas por desfastio), um dia destes o do Luís Delgado.
- E o de costumes pós-modernos, como os da Inês Pedrosa, que também saem muitíssimo bem.
- E o gay, que já começa a ter autores e público (e um público endinheirado e, por isso, promissor).
- E os do Rosa Mendes, numa categoria só mesmo dele. Os retornados compram aquilo tudo.
- E os académicos: o do Ceia, por exemplo. É para um nicho de mercado, mas safa-se.
- E o esotérico, tipo Código da Vinci, por agora quase todo importado. Mas ainda lá vamos.
- E os por vir, e por isso míticos: o da Ferreira Alves, por exemplo. Um best seller anunciado.
- O histórico é que já cansa. E não vende, ao que parece…
- O policial continua marginalizado… Bom, o Viegas passa a vida no Brasil, é porque aquilo dá. Mas se calhar vai lá é em busca de assunto. É coisa que lá não falta.
- No geral, tudo ponderado, acho que podemos concluir que o romance tem futuro, não?
- O problema é a crítica, que não há. E a que há, acha que deve escrever para meia dúzia de iluminados. Para académicos. Ora, a crítica não é isso. A crítica serve para guiar os leitores até ao livro. Para lhes dizer: «Vale a pena comprar», ou «Não vale a pena». O resto, são debates ociosos para pseudo-intelectuais.
- Até porque ao pé do marketing, que evoluiu imenso e está já ao nível do que de melhor se faz lá fora, a nossa crítica pemanece uma actividade de paleontólogos...
- Agora é que disse tudo!
- Pôs o dedo na ferida, meu caro!