Novo retorno on jokes, 3
E sentou-se, determinado.
— Pois agora, meu caro senhor, ouça mesmo. Não me interrompa.
— Às ordens, Groucho. Como bem vê, estou apenas ocupado a fumar um cigarro, que nem sequer é pensativo como o…
— Basta. Ouça a explicação me pediu, com mil diabos. Perguntou-me como conciliar a ideia de que as anedotas divulgam irresponsavelmente ideias condenáveis com a ideia da crença poética . Certo?
— Certíssimo.
— É simples. Atente nessa piada parva do belga. Ninguém acredita que os belgas confundem o telefone com o ferro de engomar, muito menos que a confusão seria sinal de estupidez irremediável. Isto é a crença poética. Por outro lado, como o senhor mesmo disse, o belga pode ser e é frequentemente substituído por outra determinação étnica ou nacional. O belga não é belga senão secundariamente. Está a seguir-me?
— Perfeitamente. Era essa a minha questão.
— Pois, mas a ideia condenável não é que o belga é sempre estúpido. O curso livre das anedotas mostra o contrário. A ideia condenável é precisamente a que estrutura a crença poética, ou seja, a ideia de que a estupidez se torna cómica quando apresentada na figura da inferioridade de certas nações ou etnias. A determinação étnica da estupidez, em si mesma, é que é condenável.
— Mas que explicação mais rebuscada, Groucho…
— O senhor diz isso porque está sem resposta. Note o seguinte: a anedota ideal é que a será entendida por qualquer humano. Não existe, nenhum humano domina todo o conjunto de pressuposições indispensáveis à inteligibilidade de uma anedota, mas não deixa de funcionar como horizonte ideal. Logo, há lugares-comuns marcados em certas anedotas para que a referência se particulariza ao alcance do auditório particular. Em si mesmas, pouco ofendem, porque são marcas da impossibilidade da anedota universal. Mas esse mesmo ideal de universalidade é que transporta a noção de inferioridade como veículo de comédia. Percebeu agora?
— Acho que não passamos sem um quarto episódio, Groucho.
— Pois agora, meu caro senhor, ouça mesmo. Não me interrompa.
— Às ordens, Groucho. Como bem vê, estou apenas ocupado a fumar um cigarro, que nem sequer é pensativo como o…
— Basta. Ouça a explicação me pediu, com mil diabos. Perguntou-me como conciliar a ideia de que as anedotas divulgam irresponsavelmente ideias condenáveis com a ideia da crença poética . Certo?
— Certíssimo.
— É simples. Atente nessa piada parva do belga. Ninguém acredita que os belgas confundem o telefone com o ferro de engomar, muito menos que a confusão seria sinal de estupidez irremediável. Isto é a crença poética. Por outro lado, como o senhor mesmo disse, o belga pode ser e é frequentemente substituído por outra determinação étnica ou nacional. O belga não é belga senão secundariamente. Está a seguir-me?
— Perfeitamente. Era essa a minha questão.
— Pois, mas a ideia condenável não é que o belga é sempre estúpido. O curso livre das anedotas mostra o contrário. A ideia condenável é precisamente a que estrutura a crença poética, ou seja, a ideia de que a estupidez se torna cómica quando apresentada na figura da inferioridade de certas nações ou etnias. A determinação étnica da estupidez, em si mesma, é que é condenável.
— Mas que explicação mais rebuscada, Groucho…
— O senhor diz isso porque está sem resposta. Note o seguinte: a anedota ideal é que a será entendida por qualquer humano. Não existe, nenhum humano domina todo o conjunto de pressuposições indispensáveis à inteligibilidade de uma anedota, mas não deixa de funcionar como horizonte ideal. Logo, há lugares-comuns marcados em certas anedotas para que a referência se particulariza ao alcance do auditório particular. Em si mesmas, pouco ofendem, porque são marcas da impossibilidade da anedota universal. Mas esse mesmo ideal de universalidade é que transporta a noção de inferioridade como veículo de comédia. Percebeu agora?
— Acho que não passamos sem um quarto episódio, Groucho.
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