31 julho 2005

Meta-qualquer-coisa-mente, 3*


/…/ e assim compreenderão que me espante não ver explorada a analogia entre os blogues e o velho folhetim. Se é que alguém alguma vez a mencionou. A analogia vale para todo o tipo de blogues, dos políticos aos íntimos, no estrito plano da leitura: quem os lê, segue episódios, procura a continuidade, tenta discernir e conjugar os vários fios de intriga quotidianamente prolongados. Mas a analogia devia valer para a escrita. Os posts, ou postas, como já vi escrito, são realmente folhetins, pequenas folhas, pequenas parcelas, pequenas prosas, em todo o caso episódios de intriga mais ampla, as mais das vezes por definir. Isto é seguramente verdadeiro em princípio. Ora, pode ser verdadeiro na composição. Têm uma ideia (que vale pouco sempre se posta em confronto com a escrita): não a gastem logo. A ideia, afinal mero ponto de partida, ignição da escrita, pode dividir-se: em vez de logo lhe subordinar a escrita, trabalhem-na em vários momentos, quero dizer, vários posts — de preparação, de divagação, de consideração de aspecto lateral, de mero anúncio, ou de pura conversa. Não interessa muito a ideia, interessa o fio em que vai ganhando forma ao longo dos dias ou das semanas. Dir-me-ão que assim se pressupõe a leitura diuturna e o leitor fidelíssimo: e pode ser de outro modo? Além disso, os links facilitam porque tornam materialmente possível a leitura de todos os posts correlatos num único momento de acesso. Linkar é um capítulo decisivo da arte da composição do post. Eis, em suma, porque tenciono desenvolver uma Arte de composição para bloguistas.

A. Bispo Bártolo
Da «Proposta de candidatura ao Casmurro»