Meta-qualquer-coisa-mente, 3*
/…/ e assim compreenderão que me espante não ver explorada a analogia entre os blogues e o velho folhetim. Se é que alguém alguma vez a mencionou. A analogia vale para todo o tipo de blogues, dos políticos aos íntimos, no estrito plano da leitura: quem os lê, segue episódios, procura a continuidade, tenta discernir e conjugar os vários fios de intriga quotidianamente prolongados. Mas a analogia devia valer para a escrita. Os posts, ou postas, como já vi escrito, são realmente folhetins, pequenas folhas, pequenas parcelas, pequenas prosas, em todo o caso episódios de intriga mais ampla, as mais das vezes por definir. Isto é seguramente verdadeiro em princípio. Ora, pode ser verdadeiro na composição. Têm uma ideia (que vale pouco sempre se posta em confronto com a escrita): não a gastem logo. A ideia, afinal mero ponto de partida, ignição da escrita, pode dividir-se: em vez de logo lhe subordinar a escrita, trabalhem-na em vários momentos, quero dizer, vários posts — de preparação, de divagação, de consideração de aspecto lateral, de mero anúncio, ou de pura conversa. Não interessa muito a ideia, interessa o fio em que vai ganhando forma ao longo dos dias ou das semanas. Dir-me-ão que assim se pressupõe a leitura diuturna e o leitor fidelíssimo: e pode ser de outro modo? Além disso, os links facilitam porque tornam materialmente possível a leitura de todos os posts correlatos num único momento de acesso. Linkar é um capítulo decisivo da arte da composição do post. Eis, em suma, porque tenciono desenvolver uma Arte de composição para bloguistas.
A. Bispo Bártolo
Da «Proposta de candidatura ao Casmurro»
Da «Proposta de candidatura ao Casmurro»
<< Home