28 julho 2005

Leis do cargo

- O senhor já sabe das eleições presidenciais na Guiné?
- Não, Groucho. Então quem ganhou?
- O Nino Vieira, imagine.
- Admirável povo, que assim acolhe quem antes expulsou. No hard feelings, pelos vistos.
- Nenhuns, mesmo. Mas sabe o que me ocorreu?
- Diga.
- É que até aqui todos os presidentes da Guiné acabaram depostos. Uma espécie de lei do cargo. E agora, pelos vistos, estamos a assistir ao oposto: os presidentes depostos acabam por ser reempossados.
- E acha o meu amigo que se gerará assim uma nova lei do cargo? Ainda poderemos ter de novo o homem do barrete vermelho, aquele Kim…
- Kumba Ialá, senhor. O do Livro de Pensamentos.
- Esse mesmo. Acha que ele ainda voltará a ser presidente?
- Quem sabe… Só que para que isso aconteça é preciso que a lei anterior prevaleça.
- Pois, percebo: para que o regresso de Nino ao poder se possa afirmar como lei geral (todos os presidentes depostos acabarão reempossados) é necessário que a lei anterior permaneça (todos os presidentes eleitos acabarão depostos).
- Exacto. Só assim se assegurará a rotação de lugares na versão guineense da democracia.
- Que tem algumas virtudes, não acha? Pense no Jardim, que já ameaçou voltar ao poder post mortem, numa próxima reencarnação…
- Nem mais. Bem vistas as coisas, nem sei o que será melhor: se o sistema madeirense, se o guineense.
- Pois eu cá não tenho dúvidas: antes a Guiné na Madeira. Ou o Jardim na Guiné.
- Era o ideal. Mas, sabe? Estou convencido de que se ele fosse eleito presidente da Guiné, as leis locais da rotação de cargos acabavam suspensas para sempre…
- Grrrr! Coitados dos guineenses. Já viu o pesadelo que os espera? Verdadeiramente neo-colonial, meu caro. Antes o Nino. Ou o Kumba.