02 julho 2005

Jazz de perdição

- Então hoje não ouve música, sr. Rubim?
- Já esgotei a discoteca do clube. Fartei-me de repetições.
- Tomei a liberdade de lhe trazer...
- Quê, um Ferrero-Rocher?
- Nota-se que a falta de música lhe afecta a qualidade das piadas, mas eu não me ofendo com graçolas, por piores que sejam. Não, a iguaria é outra. Tomei a liberdade de lhe trazer um CD.
- Um CD? Trouxe-me um CD lá de Lafões, Groucho?
- Em Lafões vive-se, com sua licença, na era da reprodutibilidade técnica, o século por lá é o mesmo que por aqui, acredite.
- Mas eu só ouço jazz, Groucho, toda a gente sabe isso.
- Limitação perdoável, não se apoquente. Em Lafões tudo se ouve, incluindo jazz. Foi uma menina que me aconselhou, espero que não me enganasse na escolha. Tocam dois músicos que já o ouvi mencionar com entusiasmo, Roy Eldridge e Ray Brown...
- (vira-se de súbito) Oh Groucho!...
-...mas o disco não é de nenhum deles. Chama-se Compota de Count Basie, conhece?
- O senhor disse Count Basie? Tem a certe... Compota?! Mostre cá isso!
- Aqui tem: Count Basie Jam. Não me diga que traduzi mal.
- É um erro básico, não se apoquente. Daqui a bocado explico-lhe o que é uma jam session, só lhe posso dizer que não é propriamente uma sessão de compota. Agora, agora Groucho, vamos mas é pôr isto a tocar e direitinhos a esta aqui (está a ver? Jumpin' at the Woodside) para o senhor ouvir o que é música! Salvou-me o dia! Estava capaz de beijá-lo, Groucho!
- Ora, por quem é...
- Oiça, oiça!
- Mas... o sr. Rubim está... a dançar!
- E você não dança? É o swing, Groucho, É O SWING!
- (perplexo) E vinha eu pôr ordem na baderna...