24 julho 2005

Iminências e Eminências

- Li num jornal que a candidatura de Soares está iminente!
- Com i ou com e?
- Com i, claro. Se não, não podia estar. Tinha de ser.
- Como assim?
- Que pergunta! A iminência não é, está. O que está iminente, logo deixa de estar.
- Está a dizer que a candidatura já não está iminente?
- Nada sei de candidaturas. Agora, quanto à iminência, é evidente que não pode estar assim mais de uns dias… Se não, perde-se a iminência, torna-se rotina, déjà vu.
- Percebo. É como a do Manuel Alegre, que está iminente há meses.
- Exacto. Se bem que no caso dele, a eminência (com e) o torne candidato (e só isso) a uma permanente iminência (com i).
- Mas não é o mesmo que sucede com Soares? Ou acha-o menos eminente?
- Soares é «a» eminência. Logo, desnecessita iminências. Soares está sempre iminente, é pleonasmo dizê-lo.
- Mau, agora é que me perdi. Qual é então a diferença em relação a Alegre?
- Bom, do ponto de vista da intenção das personagens, é claro que Alegre se vê como uma eminência que sempre esteve pouco iminente (injustiças da História). Por isso, ultimamente – desde a campanha para secretário-geral do PS – decidiu reivindicar o seu direito a estar também iminente. Parece evidente. Como a iminência de ser o novo secretário-geral do partido não se concretizou, parte para outra, sem dúvida mais eminente.
- A iminência da eminência…
- Nem mais. Aquilo que move Cavaco, por exemplo, ou Freitas, ou Alegre, ou de novo Soares.
- Uma das distinções fundamentais entre democracia e ditadura, não lhe parece? Nesta última a eminência nunca desce ao patamar da iminência. Existe, por direito natural, para sempre.
- Diga antes, uma das agruras da democracia, meu caro…
- Mas acha que Soares está mesmo iminente? E Cavaco, tão bem instalado na sua poltrona de avô, vai submeter-se às contingências da iminência?
- Não discuto eminências, meu caro. Antes o futebol, que é mais democrático. A propósito, qual é o novo ponta-de-lança iminente para o Glorioso?