04 julho 2005

A identidade nacional revisitada (em Viseu)

- Não há dúvida: o génio português é mesmo insondável…
- Insondável? Quer dizer denso, enigmático, quiçá sebástico?
- Não, nada disso. No caso em vista, quero dizer é que é comprido.
- Comprido? Vem aí brejeirice…
- Nada disso, de novo. Sentido literal, apenas.
- Explique-se, homem.
- Então não viu? Ontem em Viseu bateu-se um recorde do Guinness: um pão com chouriço de cerca de 1 km de comprimento!
- Bem eu dizia que vinha aí brejeirice: um chouriço de 1 km de comprimento?...
- Pão com chouriço! Chiça, está surdo?
- Ora, ora, fora ou dentro do pão o chouriço é um símbolo fálico, toda a gente sabe.
- E ele a dar-lhe! Voltando a Viseu, já reparou como esta onda recordista é uma revisitação translata e melancólica do gesto (da gesta) de «dar novos mundos ao mundo»?
- Dar um pão com chouriço de 1 km de comprimento ao mundo? O mundo agradece, certamente.
- Uma nova versão do nosso labirinto da saudade…
- Agora não percebo: o km de pão com chouriço era em forma de labirinto?
- Chiça, que você hoje está obtuso! Usava uma metáfora identitária, citava o prof. Lourenço! É por via da metáfora que se alcança a alma, sabia?
- Mas ele esteve lá? Fez discurso sobre a identidade nacional? Comeu do pão com chouriço? Ah ganda beirão!
- Chiça, que o génio português é mesmo insondável! Por mais que se sonde não se topa com ele…
- Permito-me discordar: 1 km de pão com chouriço não se esconde assim tão facilmente, desculpe lá. É uma prova visível, palpável, enfim, degustável do nosso génio!
- Desisto… Bom, e o que vai ser, então? Já viu a lista?
- Sim. Para mim, pão com chouriço.
- Também vou nisso. E uma caneca de tinto da casa. Acho que é um Dão de Silgueiros, bastante bom.
- Assino por baixo.