Furo Jornalístico!!
O Casmurro apresenta aos seus leitores um verdadeiro furo jornalístico!
Por efeito de uma fuga de informação, de que não somos responsáveis, chegou-nos à mão, com algumas horas de antecedência em relação à sua publicação, o texto de análise política de José António Saraiva a publicar na edição de amanhã do Expresso. A nossa fonte garante-nos a veracidade do texto, razão pela qual nos orgulhamos de o apresentar aos nossos leitores, de acordo com os princípios estabelecidos no código de conduta deontológica do jornalismo português.
MAUS PRENÚNCIOS
Ao contrário do que muitos poderão pensar, nunca conheci pessoalmente o ex-ministro das Finanças Luís Campos e Cunha.
Ainda assim, a impressão que dele me fica após a sua meteórica passagem pelo governo, é francamente positiva.
É certo que Campos e Cunha revelou grandes inabilidades na área política.
O seu desconforto na arena parlamentar ou na TV era notório.
E não pode também passar sem reparo o artigo que publicou no Público, no qual discordava das orientações do governo em matéria de investimentos em infra-estruturas.
Não fica bem, de facto, a um Ministro de Estado e das Finanças discordar em público, e não no recato do Conselho de Ministros, da orientação do governo de que é figura proeminente.
As pessoas não gostam de comportamentos destes, e com razão.
Pois é inegável que ao publicar esse artigo, Campos e Cunha violou o dever de solidariedade que vincula os membros de um governo.
A não ser que o tenha feito deliberadamente para acelerar a sua saída do governo.
Se assim foi, o gesto revela uma dimensão do ex-ministro que cumpre assinalar, ao mesmo tempo que adensa algumas nuvens sobre o futuro da governação.
A dimensão da personalidade de Campos e Cunha assim revelada é a intransigência nas convicções.
Embora a opinião pública, e a comunicação social em geral, gostem de chamar «arrogantes» aos políticos que não transigem nas suas convicções, a verdade é que a firmeza, e mesmo intransigência, são apanágio dos grandes políticos e estadistas.
Pois só é firme e intransigente quem tem uma ideia do futuro colectivo e do rumo a seguir.
Pense-se, a esse respeito, em Salazar, Cavaco Silva ou mesmo, em certo domínios, em Mário Soares.
Ora, Campos e Cunha, que deu a cara por medidas tão impopulares como a subida dos impostos ou da taxa do IVA, terá sentido que o impulso inicial do governo, no sentido do emagrecimento e moralização das contas públicas, estava mais uma vez a ser posto em causa pela mais rasteira contabilidade eleitoral.
E, assim sendo, decidiu bater com a porta.
O país perdeu um ministro firme e terá ganho, no seu substituto, alguém mais moldável às realidades da pequena política.
Dir-se-á que a macroeconomia não pode desprezar tão olimpicamente as necessidades e carências das pessoas no seu dia-a-dia.
A verdade, porém, é que, sem o tratamento de choque da macroeconomia, são os mais carenciados que, a prazo, são mais duramente afectados.
Eis pois as razões pelas quais o episódio da demissão de Campos e Cunha coloca o governo Sócrates numa encruzilhada.
Ou se prossegue a intransigência do ex-ministro e o país poderá voltar a ter um futuro a prazo.
Ou nos rendemos à lógica das corporações e dos autarcas e o país continuará a ser adiado.
No limite, como tantas vezes tenho alertado, estará em causa a própria independência nacional.
No limite, estará em causa continuarmos a ser uma nação independente e orgulhosa da sua História, ou sermos apenas uma região subalterna da pujante Espanha.
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