01 julho 2005

Faca de paleta

Do meio dos meus lençóis
saúdo o corpo visível do poeta

Quatro animais de vidro
me acompanham
brilhando no pasto branco

Pela janela entra um meio-dia prematuro
um rasto de amor dissipado e duro
qualquer coisa de erva
cresce em sentido que há-de ser

Foi por dentro da noite mais noite
quarto abandonado ao sono
sangue entregue ao sangue
treva central por cima

Foi contra mim
na hora em que não sei o que com as mãos
procuro

Foi à sem saída do dia mais imundo
à porta do nome que mal alcanço
de costas para tudo

que deslizou secreto o barco visível do poeta
com o seu bordo sim o seu bordo não

e no meu peito lançou âncora