13 julho 2005

Enfim, agora a sério!

Abatido, coitado.
— Então, seu Groucho duma figa, contentinho de ter ido à televisão?
— Estou desolado, senhor, perfeitamente desolado. Não recuperei o manuscrito, fiz figura de urso irascível, e ainda sou alvo da chacota de mestras de meninos... Que lástima!
— Ninguém diria, Groucho, ninguém, pelo menos, que o tivesse visto logo pela manhã a discutir cânones e literatura.
— Tenho que manter a compostura, senhor. Que remédio! Mas esclareço que, não obstante o manifesto abatimento, ainda acho que foi o senhor quem me roubou os cadernos…
— Furtou, Groucho, furtou. E não fui eu. Talvez seja bom conformar-se com a perda. Já me causou prejuízos de sobra. Sabe que alguns dos meus colegas tencionam propor a minha expulsão? Já avaliou o que tenho de enfrentar?
— Lamento, mas os indícios apontavam, e apontam, para si.
— Deixe-se disso, Groucho. Ou lembre-se de que ainda tenho comigo o segredo de certo martelinho
— Ah… ouça, senhor, se por acaso o meu manuscrito aparecer, e se por acaso alguém quiser editar-mo, o senhor aceitaria escrever umas linhas de apresentação, um prefaciozinho…?
— Com todo o gosto. Isso é que é a atitude certa, homem. Agora já podemos dedicar-nos a conversas sérias sobre assuntos sérios. Que me diz?
— Digo que será como lhe aprouver, meu caro senhor, como lhe aprouver… Que lástima, que triste figura, que chacota infame…!