02 julho 2005

Eizio

Agora, sub-reptício.
— Groucho! Porra! que susto! Quando é que chegou? Pensei que ainda andasse lá pelas termas a engatar velhas gaiteiras…
— Não seja brejeiro, senhor. Saiba que sempre sofri de preguiça fálica. Mas o importante é que estou aqui; aliás, o mais importante: nunca saí daqui.
— Oh, vejam só, agora deu-lhe para a brincadeira. Está a ver se entra no espírito da coisa, é?
— Nem coisa, nem espírito, senhor. E eu nunca brinco. Tenho estado por aí, escondido, a observar, muito atento. Como se faz com os rapazolas. Tencionava continuar, até para confirmar certas deduções, mas há pouco ouvi um dos cavalheiros perguntar quem é o Eddie Izzard, outro quem é o Larry David, o primeiro a confessar que nunca viu o Seinfeld — e resolvi aparecer para pôr ordem na baderna.
— Na baderna? Pôr ordem? Estranho-lhe o vocabulário, Groucho. E nem só o vocabulário, agora que reparo. Está mais direito, mais aprumado, até parece mais alto. E a atitude, Groucho, a atitude… quase arrogante. Vous avez de l’aplomb
— Conforme-se com isso, meu caro senhor. Este que aqui vê deixou de vez a submissão e o eufemismo, se me permite o zeugma. Já não me apanham calado. O título desta conversa, por exemplo, é uma infâmia, que desde já denuncio. Ao menos, ponha-lhe aspas! Piada parva, cuja inventiva se resume a ortografar uma das modalidades de resolução da dificuldade causada pelo ênclise nas formas em «-s». Do mesmo tipo que «fizio», «puzio»; mas não do mesmo tipo que «traria-lhe». Vou pôr ordem nisto, e os senhores vão ver com quantos paus se faz uma canoa.