Dia santo
— Dia mesmo santo, hein Groucho?! ninguém por aqui, tudo calmo…
— Não posso dizer o mesmo, meu caro senhor. Tem sido até uma azáfama invulgar para um domingo. Não parei, desde a manhã, a distribuir a montanha de dossiers que toda essa gente tem vindo entregar… a propósito, já viu no seu cacifo?
— Dei uma olhada, Groucho, e desanimei logo. São os currículos dos novos membros, dos candidatos, quero dizer. E vinha eu preparado para falar consigo sobre o sentido moderno de antimoderno…
— Já não carece, senhor. Informei-me devidamente sobre o assunto.
— Devidamente?!
— Nem mais, devidamente. Descobri, por exemplo, que a expressão «antimoderno em sentido moderno» é redundante. Não há antimoderno senão em sentido moderno. Nem contramoderno, nem pós-moderno, nem pré-moderno… tudo sempre em sentido moderno.
— Ideia interessante, extremamente interessante. Quer dizer que o «moderno», o que quer que seja, é a referência central, o padrão, o ponto fixo, que define tudo o que se lhe opõe ou dele se distingue?
— Não, de modo nenhum. Aprendi antes que o moderno se define na diferença com o antimoderno, o contramoderno, o pré-moderno e até o pós-moderno. Antes ou depois, ao lado, contra, em antagonismo ou em deriva diferencial, o moderno é tudo isso e ao mesmo tempo apenas uma parte disso, a que não é nem «anti-», nem «contra-», nem «pré-», nem «pós-».
— Que confusão, Groucho. A ideia ficou ainda mais interessante, mas a formulação confunde. Deixe-me acabar de ler isto, que já voltamos a falar. Se lhe interessa, claro.
— Claro.
— Não posso dizer o mesmo, meu caro senhor. Tem sido até uma azáfama invulgar para um domingo. Não parei, desde a manhã, a distribuir a montanha de dossiers que toda essa gente tem vindo entregar… a propósito, já viu no seu cacifo?
— Dei uma olhada, Groucho, e desanimei logo. São os currículos dos novos membros, dos candidatos, quero dizer. E vinha eu preparado para falar consigo sobre o sentido moderno de antimoderno…
— Já não carece, senhor. Informei-me devidamente sobre o assunto.
— Devidamente?!
— Nem mais, devidamente. Descobri, por exemplo, que a expressão «antimoderno em sentido moderno» é redundante. Não há antimoderno senão em sentido moderno. Nem contramoderno, nem pós-moderno, nem pré-moderno… tudo sempre em sentido moderno.
— Ideia interessante, extremamente interessante. Quer dizer que o «moderno», o que quer que seja, é a referência central, o padrão, o ponto fixo, que define tudo o que se lhe opõe ou dele se distingue?
— Não, de modo nenhum. Aprendi antes que o moderno se define na diferença com o antimoderno, o contramoderno, o pré-moderno e até o pós-moderno. Antes ou depois, ao lado, contra, em antagonismo ou em deriva diferencial, o moderno é tudo isso e ao mesmo tempo apenas uma parte disso, a que não é nem «anti-», nem «contra-», nem «pré-», nem «pós-».
— Que confusão, Groucho. A ideia ficou ainda mais interessante, mas a formulação confunde. Deixe-me acabar de ler isto, que já voltamos a falar. Se lhe interessa, claro.
— Claro.
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