Dia santo, 2
/…/
— Sabe, Groucho, há duas necessidades imediatas nessa descrição, ao menos duas…
— Refere-se ao antimoderno…
— Sim, ao antimoderno, necessário, em primeiro lugar, para resistir a certa ideia persistente que pensa a literatura e a arte como corte absoluto entre uma definição homogénea e estável, que vigoraria até às vanguardas do começo do século XX, e a literatura decorrente dessas mesmas vanguardas…
— O efeito futurista, ou depreendo mal?
— Depreende bem: corte absoluto entre a tradição e o moderno. Predomínio do «agora é que é» ou «agora é que vai ser», repúdio do passado, suposto bloco granítico, monumento acabado e inútil, viva o absolutamente novo! etc. Na verdade, tudo redundando em possibilidades que se fecham, teleologia, marcha da história, progresso inexorável, e outras manifestações solidárias da guerra ou do elogio da guerra.
— Percebo. Rever a literatura oitocentista em nome do antimoderno…
— Um bom programa, Groucho. Conduzindo, de resto, à outra necessidade do antimoderno: dar conta dum lastro incómodo, mas que atravessa a melhor literatura, lastro de tédio e de melancolia, de pessimismo e desespero, de desconfiança do progresso e indiferença perante a inovação e a actualidade. E dar conta doutro lastro, dele solidário e não menos antimoderno, de humorismo, galhofa, paródia, desconchavo.
— Numa palavra, já que estamos condenados ao moderno, é preciso ser absolutamente antimoderno.
— Absolutamente.
— Sabe, Groucho, há duas necessidades imediatas nessa descrição, ao menos duas…
— Refere-se ao antimoderno…
— Sim, ao antimoderno, necessário, em primeiro lugar, para resistir a certa ideia persistente que pensa a literatura e a arte como corte absoluto entre uma definição homogénea e estável, que vigoraria até às vanguardas do começo do século XX, e a literatura decorrente dessas mesmas vanguardas…
— O efeito futurista, ou depreendo mal?
— Depreende bem: corte absoluto entre a tradição e o moderno. Predomínio do «agora é que é» ou «agora é que vai ser», repúdio do passado, suposto bloco granítico, monumento acabado e inútil, viva o absolutamente novo! etc. Na verdade, tudo redundando em possibilidades que se fecham, teleologia, marcha da história, progresso inexorável, e outras manifestações solidárias da guerra ou do elogio da guerra.
— Percebo. Rever a literatura oitocentista em nome do antimoderno…
— Um bom programa, Groucho. Conduzindo, de resto, à outra necessidade do antimoderno: dar conta dum lastro incómodo, mas que atravessa a melhor literatura, lastro de tédio e de melancolia, de pessimismo e desespero, de desconfiança do progresso e indiferença perante a inovação e a actualidade. E dar conta doutro lastro, dele solidário e não menos antimoderno, de humorismo, galhofa, paródia, desconchavo.
— Numa palavra, já que estamos condenados ao moderno, é preciso ser absolutamente antimoderno.
— Absolutamente.
<< Home