25 julho 2005

Delírios pré-matinais (modernos ou antimodernos?)

- Oiça lá, Groucho, mas não se dorme neste clube? Reparo que anda por aí à conversa com os Srs. Serra, Rubim e Baptista a estas horas matutinas…
- São férias, senhor. O que, nos casos que refere, suponho significar que os vínculos familiares se aligeiram e os senhores podem, por alguns poucos dias, ler e escrever até de madrugada. Enfim, a emancipação da vida intelectual em relação aos constrangimentos familiares.
- Grande e intratável tema, de facto. Moderno, suponho, se não mesmo pós-moderno.
- Ah bom, sobre isso será melhor consultar o senhor Baptista. Segundo ele, para sermos modernos temos também de ser antimodernos (e anti-pós-modernos?...).
- Logo, se os modernos se deitam tarde, devemos, para sermos absolutamente antimodernos, deitar-nos cedo?
- Desconfio que falta aí algum elemento, pois se assim fosse não se entendia toda esta actividade auroral.
- «Actividade auroral»… Bonito, sim senhor. Mas tem razão. A não ser que a conjunção do tédio e descrença com a galhofa e desconchavo dos antimodernos, como dizia o meu amigo Baptista, implique uma reacção pluralista: os modernos deitam-se tarde (efeitos da luz eléctrica nos corpos: temos de propor este tema ao Sr. Serra), os antimodernos fazem o que lhes dá na real gana, sem prescrição prévia de «programas» ou «deveres» epocológicos.
- «Deveres epocológicos» também é bonito. Em todo o caso, melhor seria consultar o Sr. Baptista sobre tão ingente assunto. Mas amanhã, porque agora, moderno ou anti, vou fechar esta chafarica.
- Vernáculo antimoderno, meu caro! Porque não dizer que vai antes encerrar este Health Club?
- Deitar tarde não dá saúde nem faz crescer, senhor.
- Nenhum de nós pretende ainda crescer, Groucho. E quanto à saúde, desde que vá dando para o gasto…
- Expressão também muito pouco moderna, senhor. Uma vez que só já cá estamos nós, optimizemos os recursos, desactivemos o ser disto, e frequentemos o leito.
- Que frase mais antimoderna, moderna e pós-moderna, tudo ao mesmo tempo! E sem ordem cronológica na disposição dos seus segmentos, sequer. Mas tem razão. O Sr. Baptista que se avenha com o problema. Pratiquemos enfim a nossa desaparição elocutória.
- Isso, senhor, nadifiquemo-nos nos braços de Morfeu.