22 julho 2005

Corporis fabrica (I)



Senão quando, o olhar histórico reaje [a.: ?; b.: !; c.: ...] a algo absoluto: a incorporação da máquina [o rato] ao corpo humano. A um tempo artificial e vital, maquinal e biológico, na gestualidade aqui objectivada esvazia-se a distância entre Sujeito [por sinédoque: a mão] e Coisa [o rato, que está pelo computador ausente], subsumido aquele por esta. É a Técnica que define o Humano: «Deste modo, por exemplo, chega a esquecer o modo como fechar uma porta de forma suave, cuidadosa e completa. A dos automóveis e frigoríficos há que fechá-las de repente; outras têm a tendência a fecharem-se sozinhas, habituando assim os que entram à indelicadeza de não olhar para trás, de não prestar atenção ao interior da casa que nos recebe» [Adorno, Minima moralia]. A gestualidade é determinada historicamente pela violência da «ahistoricidade» da Coisa. Na reflexão adorniana, em causa um problema ético, de «civilidade». Grosseiros os dedos, cifram uma descortesia, ao levar ao absurdo a transgressão das regras do código social: o tempo erótico de acariciar o rato digital ocupa o tempo da rua, o tempo do trato presencial, o tempo da masturbação, o tempo do sexo, o tempo da orgia. Dedos impolíticos, longe das pessoas, logo de bestas ou deuses como dizia Aristóteles. Técnica que suga e se acopla à fisicidade do Corpo. Aquele novo Humano — abstraído como imposto universal [a.: ?; b.: !; c.: ...] que o traduz/trai na rede do Capital, a tarifa da web — continua a simbiose ou a subsunção do Sujeito pela Coisa. Máquina que não apenas inventa um Outro social que cresça em «maus modos». Avanço para uma maior maquinização como o avanço para uma maior organicidade. Rato que deveio orgânico – tem dentes e tem um esqueleto, até do animal tem restos póstumos, é comestível -, como dedo que deveio maquínico. A Máquina esvazia a «subjectividade» do Humano, catalizando—lhe muito embora um sentido [o tacto]. Representa—se um humano maquinal que sente. O Humano para sempre perdido é um contínuo sensível assente numa liberdade de acção talvez impossível [a.: ?; b.: !; c.: ...].