28 julho 2005

Alba on jokes*

Em manifesta afobação:
— Que coisa, esses papeluchos que anda a colar pelas paredes… É mesmo preciso?
— Qual é o problema, Groucho?
— Desfeiam o ambiente, dão a isto um ar desarrumado…
— Sabe aquela história do homem que foi ao médico porque…
— Não, não sei. Nem quero, desculpe. O problema é justamente esse. Quero é saber se posso retirar os papeluchos.
— Essa agora! Deu-lhe a mania da arrumação, ou da limpeza? Para que raio quer as paredes limpas?
— Não tenho que querer nem deixar de querer, senhor. Prefiro-as limpas, visto que sou eu que tenho de tratar delas…
— … eu que ou eu quem?
— Por favor, senhor, por favor. Não é hora para isso. O que eu não quero mesmo é anedotas afixadas nas paredes. Acho impróprio.
— Depreendo mal ou não gosta de anedotas?
— Depreende muito bem. As anedotas são uma coisa abominável, a forma mais degradada de humor, se humor se pode chamar. Coisa de primitivo. Ou terá o senhor a audácia de me dizer que são uma forma de arte, ou de literatura…?
— Eu não digo nada, Groucho. Afixo-as pelas paredes em papeluchos. Quem não quiser não lê, quem não achar piada não acha… eu apenas as divulgo.
— Mas isso é o que há de terrível na anedota! Por isso as abomino tanto. Toda a gente as divulga como se não tivesse nada que ver com elas. Espalham noções repugnantes sob o pretexto de que têm graça. Mas ninguém é mero veículo. Essa ideia é muito irresponsabilizadora, se quer saber.
— Já ouvi dizer. Mas é o que aprecio nas anedotas: não têm autor e quem as conta não se constitui autor delas. Há muitas razões para valorizar esse apego ao anonimato.
— Literatura tradicional… é isso? Era só o que faltava!
— Não, Groucho. Por que diabo tem que catalogar, classificar, discriminar? Aprenda a ouvir anedotas, ou ouça-as sem aprender, e esqueça o resto. Ou então, se não consegue, contente-se com coisas vagas. Algumas engraçadas. Um linguista poderia dizer que a anedota é um comportamento verbal. Um filósofo americano, quem sabe, diria que é um dispositivo conversacional. Um antropólogo…
— E o inconsciente, senhor o inconsciente? Já pensou na relação das anedotas com o inconsciente?
— Não, Groucho, isso é que nunca.

*Aka Early fuckink blogs