Acessos difíceis
/…/ de modo que as provas de acesso, estas ou outras, pouca dificuldade me trazem. Lamento se pareço presunçoso: apenas tenho experiência. Supervisionei várias provas de acesso, incluindo para lugares de grande responsabilidade. Certa vez, coube-me superintender o recrutamento de um agente para os Serviços Secretos. Havia três candidatos, um agente do ATF, outro do FBI e um polícia de Chicago. Imaginei uma prova infalível. Dei uma pistola ao agente do FBI, disse-lhe que fosse ao quarto ao lado e matasse quem lá estivesse. Ele foi, mas regressou depressa e furioso: «Devem estar a brincar, é a minha mulher que lá está. Não vou dar-lhe um tiro!» Bom marido, pelos vistos, mas não servia para os Serviços Secretos. Ao agente do ATF dei as mesmas instruções, e o resultado foi também o mesmo: «Aquela é a mãe dos meus filhos, seus cabrões.» Bom marido, bom pai, mas não servia para os Serviços Secretos. O polícia de Chicago recebeu a mesma instrução, entrou no quarto, e demorou muito mais tempo. Foram dez longos minutos em que se ouviram sons de luta, gritos, barulho de móveis e louça a partir… o agente regressou, transpirando abundantemente, mas ainda articulado: «Quem foi o idiota que me deu uma pistola descarregada? Tive que a estrangular!»
G. H. Souza
Da «Proposta de candidatura ao Casmurro»
Da «Proposta de candidatura ao Casmurro»
<< Home