Verão canibal
Quando chegar o verão, vai lembrar-se da palavra Luanda. Umas vezes no momento mais consequente, outras por este ou aquele acaso que o retêm. Lá estará ela, a tenra Luanda, sem sequer ter visto Luanda. A tal primeira namoradinha vivia em Luanda, onde a mãe era não sei quê da cruz vermelha, ou coisa assim. Chegavam-lhe, pois, notícias de Luanda da namoradinha de Luanda, quase todo o ano. Mas só no verão do regresso iminente é que as notícias teriam valor, estava para breve a banheira e os peixes que nela cabiam, e ainda por cima a compota de marmelo em boiões. Luanda é para ele uma palavra descarnada, um osso que vai limpando com os dentes, um músculo autofágico.
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