22 junho 2005

Sobre o ensino da ética

Ontem, por volta do meio-dia, fomos em passeio até à reserva de Mount Tom. No caminho, ao subir, W. começou a falar do ensino da ética. Impossível! Considera a ética como o facto de dizer a outrem aquilo que deveria fazer. Mas como é que se pode aconselhar outrem? Imaginemos que aconselhamos alguém que está apaixonado e prestes a casar, e que lhe fazemos notar todas as coisas que não poderá fazer se se casar. Que idiotice! Como é que podemos saber como estas coisas são na vida de outrem?
Sugeri: «A infelicidade de outrem não nos dá ensinamentos; e a nossa também quase não». Mas ele disse: «Ah não, não é exactamente assim. Consigo imaginar um mestre que seja de um certo modo superior àqueles que ensina, e que sofra com aqueles a quem deve aconselhar no seu sofrimento». (Que mestre poderia esse ser senão Jesus Cristo?) E aquele que recebe esse ensinamento deve confessar-lhe os segredos mais íntimos da sua vida, sem nada esconder. Eis o que seria ensinar ética.

Oets Kolk Bouwsma, Conversations with Wittgenstein (1949-1951)