O crítico de poesia

O Salvador é um crítico exemplar de poesia, leitor assíduo, memória cabal, mas não fala nem escreve sobre poesia – sapateia com notável despejo. É o crítico fandangueiro, ajuiza na praça com língua fandanga. Um poema que lê, taca-taca-taca; um poeta novo, taca-taca-taca; um livro de hoje mesmo, taca-taca-taca; um brinde aos egrégios, taca-taca-taca também. Não lhe falta ocasião para enfiar os sapatos e dispor-se à dança. O Salvador está sempre prestes a fandanguear, bate os pés por coreografia, encanta com tais sapatos críticos. Calcando especialmente o tacão esquerdo, diz que sim; se é o direito o mais pisado, diz que não. Taca-taca com o esquerdo, taca-taca com o direito, rodopia ágil por toda a praça, é com os tacões que vai dizendo os seus juízos. Que sapatos, os do Salvador!
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