O arquivo
Na passada segunda-feira, a Margarida acordou, espreguiçou-se, bocejou três vezes – hábito impensado na Margarida – olhou para o marido, que tinha deixado a dormir há pouco mais de seis horas, e viu um rato. Não era um rato qualquer, era o rato do marido. Já nem estranhava de não estranhar-se. Umas vezes o marido era castor, outras raposa vermelha, e coelho bravo noutras ainda. Nestes despertares não havia nem espanto nem surpresa, nem faziam falta nenhuma. Margarida sentou-se na cama, ergueu-se, ainda viu novamente o rato que amava pelo rabicho do olho, dirigiu-se ao escritório e procurou, na 24ª prateleira de livros a contar da esquerda, 3ª a contar do chão, o caderno nº 7342 do arquivo que levava, tendo apontado: “Rato, concretamente rattus norvegicus, de 20 a 28 centímetros, 500 gr. aprox. Segunda-feira, 20 de Junho de 2005”.
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