28 junho 2005

Notas avulsas

Coisas para dizer ao Groucho quando ele chegar (se chegar):
Falei em dois desejos: o de obter resposta imediata, da parte do bloguista, e o de se exprimir, da parte do comentador. Disse até que havia um «entendimento prévio» entre eles. Logo, os dois desejos encontram-se e satisfazem-se no blogue; logo o parasita quer invadir e o hospedeiro quer que ele invada: a caixa de comentários, o parasita, é chamada e alimentada pelo hospedeiro, o blogue. Pedir, então, ao Groucho que me explique, por gentileza, onde vai ele descobrir a «relação binária entre blogue e parasita, como se blogueiro […] e parasita pertencessem a duas ontologias e éticas diversas»;
— Disse também que esses dois desejos não deviam ser alimentados, porque molestos; não disse que eliminando a caixa de comentários se eliminava o parasita. Valha-nos Deus, são desejos inerentes à escrita, afinal, que se topam activos em tanto romancista que desdenha os blogues. Pedir-lhe, então, que me explique, por cortesia, qual a pertinência das observações com que pretende refutar-me: a) «eliminar comentários é eliminar uma forma indesejável de parasita, mas não significa de todo o fim da figura do parasita, sem a qual, insisto, não haveria posts, blogues e blogosfera»; b) «é perigoso, e a meu ver incorrecto ética e politicamente, fazê-lo nos termos activados pela questão do ‘parasita’».
— Observar-lhe que o parasita assume formas várias, mas não tem forma própria. A caixa de comentários é apenas a forma epidémica, porque corresponde aos dois desejos mais virulentos da chamada blogosfera. Repetir: Valha-nos Deus, são desejos inerentes à escrita, afinal, que se topam activos em tanto romancista que desdenha os blogues. Por isso me permiti aquela formulação final, por metonímia e por clarificação: a caixa de comentários é o parasita do blogue. Mas está bom de ver — e tal formulação não faria sentido sem isso — que esses dois desejos atravessam a dita blogosfera, resultando que alguns blogues são caixas de comentários disfarçadas porque não os move senão esse desejo primitivo de expressão pessoal.
— Dizer-lhe de caras que não tem valor descritivo esta frase: «eu diria (e tentarei terminar, para não me acusarem de não saber escrever para blogues) que o blogue se distingue dos outros média do espaço público por algumas coisas reconhecíveis — leveza do meio, instantaneidade, etc. —, sendo uma delas, e das mais decisivas desde o início, a interactividade com os leitores.» Não, isso são traços secundários: o blogue distingue-se pela ausência de intermediário entre a decisão de escrever e a decisão de publicar: é isso, e só isso, que gera a epidemia desse desejo de expressão pessoal e desse desejo de resposta imediata, os quais, valha-nos Deus, são inerentes à escrita e se topam em tanto romancista que desdenha blogues.
— Dizer-lhe, enfim, para não se meter onde não é chamado.