27 junho 2005

Leituras do Groucho nas termas

Em que proporção encolheu a população do Congo, durante o regime de Leopoldo, por efeito de todas essas quatro causas? [Assassínio, inanição, doença, quebra da taxa de nascimento] Os historiadores podem depositar maior confiança na percentagem que nos números absolutos – exactamente como quando elaboram tabelas da perda de população provocada pela Grande Peste na Europa do século XIV. Tudo visto, não possuem dados de recenseamento. (…)
Em 1919, uma comissão oficial do governo belga calculava que, desde o tempo em que Stanley começara a lançar as fundações do Estado de Leopoldo até então, a população do território «se reduzira a metade». O major Charles C. Liebrechts, membro cimeiro da administração do Estado do Congo durante a maior parte da existência deste, chegou à mesma conclusão em 1920. O mais fidedigno juízo da actualidade é o de Jan Vansina, professor emeritus de História na Universidade do Wisconsin e talvez o maior etnógrafo vivo dos povos da bacia do Congo, que baseia os seus cálculos em «inúmeras fontes de áreas diferentes: padres que notavam a diminuição dos seus rebanhos, tradições orais, genealogias e muito mais». A sua estimativa é a mesma: entre 1880 e 1920 a população do Congo diminuiu «pelo menos, de metade».
Metade de quê? Só na década de 1920 foram efectuadas as primeiras tentativas de recenseamento na escala de todo o território. Em 1924, a população foi calculada em dez milhões, número este confirmado por contagens ulteriores. Segundo as estimativas, isto significaria que, durante o período de Leopoldo e no que imediatamente se lhe seguiu, a população daquele território perdeu, aproximadamente, dez milhões de pessoas.

Adam Hochschild, O Fantasma do Rei Leopoldo, trad. de Manuel Ruas