19 junho 2005

Fábulas do Groucho (para quem sofre de alegoríase)

Guimarães Rosa comenta assim esta :
Afinal de contas, a parede são vertiginosos átomos, soem ser. Houve até já, não sei onde ou nos Estados Unidos, uma certa parede que irradiava, ou emitia por si ondas de sons, perturbando os rádio-ouvintes etc. O universo é cheio de silêncios barulhentos. O maluquinho podia tanto ser um cientista amador quanto um profeta aguardando se completasse séria revelação. Apenas, nós é que estamos acostumados com que as paredes tenham ouvidos, e não os maluquinhos.
Por onde, pelo comum, poder-se corrigir o ridículo ou o grotesco, até levá-los ao sublime; seja daí que seu entre-limite é tão ténue. E não será esse um caminho por onde o perfeitíssimo se alcança? Sempre que algo de importante e grande se faz, houve um silogismo inconcluso, ou, digamos, um pulo do cómico ao excelso.

João Guimarães Rosa, Tutaméia. Terceiras estórias (1967)