Degelo
Aquela parte de mim que adorava um fascista
– ou adora ainda, quem sabe!
jaz contigo, pasce contigo.
Não teme o túmulo. Chamada desde sempre
ao reino mais escuro,
morre contigo, e vive de ti.
Oferenda tremente, só sabe seguir-te
e agarrar-se a teu mal
como ao porto mais seguro.
Medusa desossada, o que resta de mim
luta por completar-se
sem ti, longe de ti.
O bisturi vacila. Quem me vive do outro lado?
De que modo pensar-te
como se eu não fosse tu?
Maria Mercè-Marçal
[Trad. PS]
[de Desglaç (1997); em espanhol, Deshielo, trad. de Clara Curell, introdução de Andrés Sánchez Robayna, Igitur, 2004.]
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