22 junho 2005

De narizes e charutos

Muito vai de Groucho a Marx:

– Pare lá com isso, Sr. Marx, olhe que não é para tanto. Rir assim, só os deuses.
– Seja, Sr. Groucho, mas reconheça que não é para menos. Vamos aos factos.
– Ai, os factos… Ficámos, há tempos, que isso dos factos…
– …Nem mais, nem mais. O certo é que, de todos os problemas, o problema terá sido o charuto!
– Pois, um charuto político.
– O seu charuto, apagado por charuto politicamente incorrecto.
– Não saio de mim, pode lá haver charuto sem Groucho? É como aquele que só era homem pegado a um nariz…
– Alto aí, narizes de high school nos States, onde vai muito de nariz a nariz.
– Eu nem entro nem saio, andam a roubar-me a aura já há tempo. Besunte-se um careto com sobrancelhas e borrão bigodado, acrescente-se um charuto na beiça…
– Mas se o careto é o tal careto, a conversa é outra: bush-bashing é ideologia, sabia?
– Não tarda, estou a vê-los apagar o charuto em tudo o que for frame comigo…
– Ora, até lá sempre podemos rir como os deuses. Aqui estamos os dois, o Sr. Groucho com o seu charuto fílmico, e eu com este demorado charuto. Questão de narizes e os nossos são narizes enganados.
– Isso, isso, Sr. Marx, ainda há enganos belos.
– Evoé, Sr. Groucho, dos narizes desenganados libera nos domine. Também para isto serve a filologia quando está ao serviço do First Amendment.
– Estranha filologia a sua, Sr. Marx, mas venha ela!




[O caso dos cartazes de “Bush-as-Groucho”, afixados no passado mês de Maio, teve lugar em El Camino Real High School (Woodland Hills, CA). Anunciavam um peça de teatro encenada por estudantes, “The Complete History of America (Abridged)”. O cartaz terá sido proibido, entre várias razões, por apologia do tabaco. Entre outras, esta conversa implica, muito imprecisamente, a seguinte refª: António Duarte Ferrão, pseud., Nariz enganado, e desenganado, tabaco empulhado, e defendido..., Lisboa, Off. de Miguel Manescal da Costa, 1767.]