Backwards: o blog e a leitura
- Ainda inquieto, Groucho?
- Lamento, senhor, mas continuo agastado com esta coisa do weblogging.
- Que diabo! Estou mesmo a ver que não seguiu o conselho do Sr. Baptista: esqueça o arquivo e ajuste-se ao tempo, homem.
- Confesso que ao ler ontem o malfadado arquivo fiquei de novo confuso.
- Então?
- A gente a conversar nem dá conta, mas o senhor já reparou que isto se lê na ordem inversa?
- Não é experiência inédita. Pense no livro de cheques, por exemplo. Tudo passa pelo filão narrativo.
- Lá está o senhor com zombarias. Admita que a própria natureza do blog é anti-narrativa, mais ainda quando os cavalheiros me arrastam a toda a hora para efabulações delirantes. Experimente ler o arquivo na íntegra e logo perceberá o que quero dizer.
- Tenho é de lhe emprestar um livrito do Umberto Eco que anda ali pela garagem. Já ouviu falar na teoria peirciana?
- Senhor, já não tenho idade para esses rituais primitivos.
- Referia-me a Charles S. Peirce, Groucho. Bom, e do leitor como princípio activo da interpretação, já ouviu falar?
- Também não.
- Alguma ideia sobre selecções contextuais e circunstanciais?
- Lamento, senhor.
- Operações complexas de inferência textual?
- Desculpe, mas não.
- Tenho então de lhe emprestar dois livros do Umberto Eco.
- Com sua licença, senhor, não será demasiada leitura sobre leitura? Trata-se apenas de um blog.
- Não me parece, Groucho. Você tem de pacificar a sua relação com o arquivo de uma vez por todas, e sempre aproveita para saber que isotopias narrativas vinculadas a disjunções isotópicas geram, em todos os casos, histórias complementares.
<< Home