Respondendo à (suposta) resposta de Luís Mourão
Prezado Sr. Luís Mourão,
Arrisco que o ímpeto debatedor se dá mal com a discriminação necessária dos problemas em discussão. Mas também é bem certo que, perante certas almas infensas à discriminação, nada como o ímpeto debatedor e mesmo, porque não dizê-lo, batedor.
Pretende o meu amigo que o meu post era apenas faceto, quando a verdade é que eu propus à sua consideração e dos leitores – mais destes que de si, é certo, pois terá percebido que o usei como pretexto para chegar àqueles – o magno tema do «sentido crítico do moderno» a propósito de um muito falso elogio de Camilo a Eça. O meu post, se tivesse perdido dois segundos a ponderar todas as implicações que nele se albergavam, era profundo e implicava uma revisão crítica da narrativa do moderno entre nós, que remete Camilo para o sótão das reaccionarices empoeiradas, ao mesmo tempo que puxa o lustro ao busto de Eça. Para perceber isto, e todas as suas tremendas consequências, era necessário que o meu amigo usasse da contenção (e contensão) de espírito indispensáveis à conjugação do verbo «pensar». O meu amigo preferiu vazar em prosa rancorosa o chamado «direito à indignação», essa arma dos narcísicos por procuração.
Porque o meu amigo prefere recorrer ao discurso dos humilhados e ofendidos. É o tópico das anedotas: as anedotas de alentejanos ofendem os alentejanos? Na verdade, não há pessoas ofendidas ou humilhadas — há pessoas que se dizem ofendidas ou humilhadas, que interpretam como humilhação ou ofensa o efeito sofrido e imputam a quem o produziu a intenção de humilhar ou ofender. Interpretar e imputar são duas operações tão falíveis como improváveis.
Resumindo: eu quis honrá-lo com um desafio intelectual para que o supunha disponível e, mais ainda, preparado. O meu amigo respondeu mandando-me abaixo de Braga. Pois fique sabendo que me sinto por cá muito bem e assim tenciono permanecer.
E descanse, que não me intrometerei mais nesse clube de que em boa hora me exilei.
Passar bem,
Abel Barros Baptista
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