Das dificuldades do diálogo interclassista (II)
Prezado Sr. Silvestre,
Ao menos por imeile, sem ser de viva voz, e sem todas aquelas interferências, ainda nos entenderemos, creio.
Pois bem, senhor, queira saber que me mudei. Para outro clube, noutra dimensão: a minha. Controlado por mim, sem subserviências a pseudo-intelectuais, sem chás insípidos e pretensiosos, sem internas e eternas conversas e querelas que não interessam nem ao menino Jesus… [Perdão, senhor, perdão! Longe de mim querer ofender as suas convicções ou as dos crentes em geral! Foi um lapso. Apenas isso. Peço novamente desculpa.]
Quanto à menina Clara, mudou-se pouco depois para o meu clube, cansada da condescendência a que os senhores a votavam. Mas não anda feliz, tenho de admitir. Há ali um facataz qualquer pelo Sr. Rubim, isso salta à vista. Parece que se têm carteado, e isso faz-lhe bem. Mas agora vem aí o Dia dos Namorados e a iminência da solidão nesse dia trá-la de novo melancólica.
Em todo o caso, quer ela quer eu não nos arrependemos deste passo. Deus me livre de voltar a esse clube! Deus me livre de ter um blogue!
Aguardo as suas palavras, aqui neste meu novo mundo.
Virilmente,
Groucho
Groucho, mordomo sem nenhum carácter,
Oscilo entre lançar o CSI no seu encalço (ou o CTU do agente Bauer) e ir eu sozinho, com uma corda bem grossa, para o pendurar no candeeiro mais alto da sua rua! O seu comportamento é, como sempre, ingrato, desrespeitador e violador de contratos laborais assinados em pela liberdade por ambas as partes. Ainda por cima, tivemos o «prazer» de receber aqui carta registada da CGTP invocando o seu direito a rescisão com justa causa por «repressão especiosa e contumaz da liberdade de expressão do nosso filiado nº 9 452 675»! Mas alguém alguma vez reprimiu o seu direito a dizer disparates e aleivosias? Quando penso no que tivemos de aturar ao longo de todos estes meses!
Deus me livre de o voltar a aturar! Ou, sequer, de lhe pôr a vista em cima! Em todo o caso, raptar-nos a menina Clara (sim, porque é disso que se trata, deixemo-nos de tretas: a rapariga é jovem e inexperiente e o Groucho, velho perverso como é, abusou da candura dela) é inaceitável! Se diz que ela foi de sua livre vontade, então ela que o diga: quero ouvi-lo da boca dela. Menos do que isso, é, repito, inaceitável e coloca-o sob fundada suspeita.
Temos para aqui o Sr. Rubim num estado miserável, a precisar urgentemente da terapia da Sra. Clara. E você, seu jagunço, nem sequer nos dá o seu novo endereço!... Se o homem tiver um achaque, é bom que saiba que o denunciaremos a quem de direito!
Ainda para mais, você retira-se numa altura em que nos preparamos para admitir novo membro no clube, tendo em vista a elevação da componente filosófico-metafísica do mesmo. Agora que as reuniões no clube se preparam para ganhar peso e densidade existencial, ficamos sem quem nos sirva o chá ou uísque da praxe?!
Você não passa de um abusador. E pensar que em geral são os trabalhadores quem se queixa das deslocalizações de empresas congeminadas pelos patrões! Você deslocaliza-se, do dia para a noite, e ainda goza com a gente, bradando que Deus o livre não sei de quê, e enviando-nos a CGTP?! E com essas falinhas mansas, de deturpação profissional apenas?!
Se aí nesse assento etéreo para onde se mudou houver cinema, vá ver o Munique, para perceber tudo o que eu lhe queria fazer agora.
Passar bem, senhor Groucho.
Silvestre
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