31 janeiro 2006

Os amadores, os críticos e os amigos dos críticos, 2


— De amadores, garanto-lho eu. Isso é um problema que só se coloca aos amadores.
— Como assim?
— Um crítico profissional, sobretudo um crítico com apurado sentido de profissionalismo nunca tem amigos que escrevam.
— Ora essa! Porquê?
— Por uma das duas razões que eu passo a explanar. A melhor, a mais recomendável, é a que decorre da sua autoridade. Um crítico com verdadeira autoridade de crítico (e, note bem, só esses merecem o nome) inibe todos os amigos de escrever. É um fenómeno tão abrupto que, nos casos de maior sucesso, nem os inimigos dele se atrevem a arriscar uma linha, quanto mais os amigos!
— Acho que percebo onde quer chegar…mas não consigo figurar qual seja a segunda razão que impede um crítico de ter amigos que escrevam.
— Então, Groucho, está-se mesmo a ver!
— Talvez seja eu que…
— Quando os amigos teimam em não reconhecer a autoridade do crítico ou quando o crítico ainda está a debutar, enfim…como direi? Há métodos para…para…remover o obstáculo, não é…
— Métodos? Que métodos?
— Ó Groucho, os amigos para escrever…enfim, precisam das mãos…precisam dos braços…de um modo geral, precisam de ter o corpo em bom estado, compreende?
— Ó Sr. Rubim…! Mas são amigos!
— Claro, claro, o trabalho tem de ser bem feito, com o devido sigilo e a máxima discrição. Nada de amadorismos, sobretudo nada de amadorismos!