11 janeiro 2006

Metal e melancolia

O poeta Fernando Assis Pacheco revelou o seu desespero numa entrevista televisiva nos idos noventa do século passado. Conversando com um taxista em Lima, o homem disse-lhe do enigma da linguagem e da identidade usando um verso em que se fala de "metal e melancolia". Expressão que contém toda a enigmática vigília daquele que conduz os circunstantes para precisos destinos de recorte incerto. Assis Pacheco terá percorrido bibliotecas inteiras em busca da fonte de tais versos, sem sucesso.
Alguns meses depois da sua morte à porta de uma livraria (sob o império de uma procura fatal), tropecei numa página de Borges onde se faz plasmar o verso que a erudição do poeta português não contemplava. Voltei a isto ontem por inoportuno golpe de memória. Regressei ao Borges, e não fui capaz de detectar onde se fala de "metal e melancolia". Horas de inglória procura. Nada disto surpreende. O "livro de areia" fez de novo das suas.
É provável que o taxista que conduziu Assis Pacheco pelas ruas de Lima fosse afinal o Borges, himself.