05 novembro 2005

Então e o clube de fãs?

― Vai bem, vai bem. A ideia avança.
― E qual é o seu papel?
― Estou a redigir uma proposta de estatutos.
― Sozinho?
― Quase.
― Quase?
― Sim, Groucho, quase. Pedi ajuda à menina Clara num ponto delicado.
― Posso saber qual?
― Pode. É o § 14 dos Estatutos.
― 14?
― É. Trata-se de um § que estabelece a regra quanto à relação dos fãs com outros cronistas que não VPV. Dou-lhe um exemplo: poderá alguém ingressar no clube se for ao mesmo tempo leitor crónico de VPV e seguidor acidental das crónicas de Miguel Sousa Tavares? Ou se, caso mais sério, nutrir incontornável admiração pelas crónicas de João Pereira Coutinho? Em suma: terá o fã de VPV de viver em regime de dedicação exclusiva às crónicas de VPV?
― Hmmm, um bico de obra…
― Não duvide. Mas a menina Clara, mesmo sem pretender ser admitida no clube (veja só a generosidade!), foi lesta a fornecer-me uma solução.
― Diga, diga!
― Insistiu na importância do princípio de hierarquia inequívoca e aconselhou-me uma redacção do § 14 que, conservando a exigência de admiração incondicional exclusiva pelas crónicas de VPV, abranja os casos consistentes daqueles fãs de VPV dedicados ao culto negativo de outros cronistas.
― Culto negativo?
― Sim, Groucho. É a atitude das pessoas que chegam a coleccionar as crónicas de Eduardo Prado Coelho com o mesmo amor que certos cinéfilos manifestam pelos filmes de Ed Wood… O paradigma, para a menina Clara, é a paixão de George Smiley pelos poetas menores do Barroco alemão.
― Está bem observado, sim senhor!
― Olhe, aí vem a menina Clara, vamos lá cumprimentá-la…