03 setembro 2005

Uma hora e cinco minutos depois

― Afinal, acho que não o incomodo mais, Groucho. Agradeço-lhe a paciência, mas estou a ficar com sono.
― Agradece coisa nenhuma. Foi um prazer. E o prazer seria maior se estivesse seguro de que lhe fui útil de alguma forma.
― E foi, acredite. Eu precisava, não só de falar, mas de alguém que falasse comigo. E o Groucho respeitou, a estas horas impróprias em que não tinha obrigação de o fazer, aquele famoso princípio do Stevenson: “o primeiro dever dum homem é falar”.
― Ah conhece esse texto?
― Conheço pois.
― Não sabia. O Stevenson é um autor tão mal entendido que eu parto sempre do princípio que já ninguém o lê. Mas, de facto, tenho ideia de uma conversa, já não sei quando, em que falámos da Ilha do Tesouro… Um livro, aliás, que também circula por aí muito roído de leituras equívocas e sobretudo preconceituosas, diga-se de passagem. Mas então o senhor leu esse texto sobre a conversa e os conversadores no original ou em tradução? Sabe que eu nisso, enfim…