01 setembro 2005

«Dicionário de Soundbytes», por Groucho

Globalização: 1. Manifesta-se na secção de frutas dos hipermercados, nos vírus informáticos provenientes dos EUA ou das Filipinas, nas lojas de chineses, nos ténis americanos feitos no Vietname ou na Indonésia, nas empresas do têxtil deslocalizadas para a Roménia, o México ou a Índia, no triunfo das «mangas» japonesas sobre os comics americanos ou a BD franco-belga, no acto de sair para ir «comer étnico», nas secções de World Music das discotecas, no triunfo de uma «literatura internacional» feita de alegorias e temas palpitantes (cavernas, homens duplicados, etc.), no facto, cientificamente comprovado, de o bater de asas de uma borboleta na China poder originar um tornado no Golfo do México, na derrota de Portugal face à Coreia do Sul no Mundial de Futebol que lá teve lugar, na gripe das aves, no turismo sexual e, em geral, na facilidade de propagação de vírus, no imediato contágio das Bolsas mundiais quando há más notícias, etc. 2. De acordo com os bons autores, beneficia os países pobres e prejudica os ricos, o que só demonstra, contra todas as mistificações altermundialistas, a lógica e justiça retributivas do capitalismo (sobre isto, cf. José Manuel Fernandes). 3. Convém, contudo, para que funcione mesmo bem, que os países pobres não o sejam muito e que tenham uma certa dimensão (em território ou população). 4. Em qualquer caso, Portugal está tramado, pois nem é rico, nem pobre, e é uma caganita para qualquer dos padrões internacionais. 5. Pressupõe o livre comércio, intransigentemente defendido pelos EUA, à excepção dos casos menores das laranjas brasileiras ou do aço, da carne e da agricultura em geral, dos filmes, das patentes, etc. 6. Pressupõe também a desregulação dos mercados, sem a qual não há verdadeiro livre comércio, e que consiste em criar condições para o darwinismo pelo qual a globalização opera para bem dos desfavorecidos do planeta. 7. As multinacionais, por exemplo as farmacêuticas que criaram os fármacos contra a SIDA, ou as da genética, que estão a patentear todo o genoma, são, pelo contrário, a favor de regras muito claras e impositivas, pois não há coisa mais intolerável e perniciosa para o livre desenvolvimento da ciência e do mercado do que a pirataria ou a quebra de patentes. 8. «Vivemos em sociedades de risco, mas os riscos são também oportunidades e agora é que se vai ver quem é que tem unhas para tocar guitarra. Eléctrica, claro!»