03 setembro 2005

Dez minutos depois

― …mas porquê, porquê? Isso é que eu não entendo.
― Sabe, talvez não seja assim tão difícil de entender. A perspectiva é que tem de ser outra.
― Outra, qual?
― Veja. As pessoas procuram, afinal, o quê? Procuram outra pessoa, claro. Mais: procuram essa pessoa, isto é, aquela pessoa e não outra pessoa qualquer. Procuram ou, melhor, sonham encontrar essa pessoa sozinha, só ela, mais ninguém. Mas, com certas pessoas, quem sabe até se com todas, pode passar-se a vida inteira a procurar que nunca chega o dia em que se consegue encontrá-las sozinhas. Por qualquer razão, nunca estão sozinhas, percebe?
― Sim, acho que sim…
― E, ao mesmo tempo, é como se nós também nunca fôssemos capazes de chegar sozinhos à outra pessoa. Por outras palavras: o que devia ser um encontro entre duas pessoas nunca é… Em vez disso, acontece um choque de multidões. Ora, onde é que já se viu duas multidões travarem-se de intimidade?