22 junho 2005

Degelo

Toda a mulher adora um fascista...”
Sylvia Plath

Aquela parte de mim que adorava um fascista
– ou adora ainda, quem sabe!
jaz contigo, pasce contigo.

Não teme o túmulo. Chamada desde sempre
ao reino mais escuro,
morre contigo, e vive de ti.

Oferenda tremente, só sabe seguir-te
e agarrar-se a teu mal
como ao porto mais seguro.

Medusa desossada, o que resta de mim
luta por completar-se
sem ti, longe de ti.

O bisturi vacila. Quem me vive do outro lado?
De que modo pensar-te
como se eu não fosse tu?

Maria Mercè-Marçal

[Trad. PS]

[de Desglaç (1997); em espanhol, Deshielo, trad. de Clara Curell, introdução de Andrés Sánchez Robayna, Igitur, 2004.]