A céu aberto
- Estimulante conversa, Groucho, a que manteve agora mesmo com o Sr. Quintais. Mas já reparou na contradição nos termos que o projecto de Paul Virilio de um «museu de acidentes» é para um português?
- Como assim?
- Repare bem no nosso caso. Um património pobre, museus despidos de grandes atracções e pouco competitivos internacionalmente. Mas se mudarmos para o campo dos acidentes, já viu o que aí vai de matéria-prima para Ballard, Virilio e Cronenberg? O IP3, o IP4, o IP5…
- Seríamos imbatíveis, Sr.
- Sem dúvida. E mais ainda se acaso nos deslocássemos da infraestrutura para a superstrutura (há que tempos não usava estes termos…).
- Refere-se exactamente a quê, Sr.?
- Atão, Groucho, aos governos! Considere as potencialidades infindas de um museu de governos acidentados: o governo Guterres, o governo Durão, o governo Santana…
- Seria necessária toda uma Expo, Sr.! E não sei mesmo se, como na fábula de Borges, não seria necessário fazer coincidir, milímetro a milímetro, um eventual museu de acidentes e o território nacional na sua íntegra.
- Nem mais. Donde, facilmente se conclui que todo o país é um vasto «museu de acidentes» a céu aberto. Só que assim, S. Popper nos valha, aonde a linha de demarcação entre museu e não-museu? Mais uma vez me convenço de que ou se fica com o lusomundo ou com a epistemologia popperiana (ou com a epistemologia, tout court).
- Quod est meditandum, Sr.
<< Home